sexta-feira, abril 28

consagrados

Houve uns tempos em que a “grande encomenda” de arquitectura para a cidade, era exclusiva dos gabinetes de JC Loureiro e Márcio de Freitas .... eu, jovem estudante, ouvia os lamentos dos meus doutos professores sobre o “açambarcamento” .... Entretanto, muito mudou na nossa cidade e no país com a adesão à CEE, e os consequentes incentivos para o desenvolvimento, que possibilitaram uma nova era de dinheiro fresco, logo convertido em automóveis, casas, telemóveis, num corrupio desenfreado...

Na gestão Fernando Gomes, principalmente depois da “traição do manquinho” (que andava negociando tudo de mansinho por baixo da porta com uns gabinetes-satélite) houve uma aproximação aos meios universitários – foi assim que o Cardosão foi recrutado para o trânsito, e de “técnico” passou a “aprendiz de politiqueiro” ascendendo até a número 2...

Durante o consulado do Cardosão foi evidente uma maior aproximação aos meios universitários e à cultura, culminando na realização da Porto2001 e na requalificação urbanística dos espaços públicos, com “encomendas” directas a arquitectos de referência e/ou ligados à “Escola do Porto” recrutados pelo “mérito” e não pelas “ideias”, o que passou a ser uma forma de evitar a discussão (aliás, quem somos nós, simples e provincianos cidadãos, para discutir com os deuses do Olimpo?) E claro que para a pérola do evento – a Casa da Música – era preciso um toque de cosmopolitismo, organizando-se para tal, um pequeno concurso conceptual entre umas vedetas internacionais, tendo daí resultado a escolha do “meteorito” do holandês... um objecto abstracto que este foi repescar ao arquivo de projectos abandonados, ressuscitando-o para albergar a “dita cuja obra” que este país do “pimba” tanto ambicionava.

Entretanto, a máquina partidária, comandada pelo sinistro Gaspar, andava exasperada porque o Cardosão não lhes ligava pevide e tratou rapidamente de lhe “fazer a cama”,... apelando solenemente: “volta Gomes, que estás perdoado!....” e ele apareceu de volta ao burgo, pavoneando-se pela campanha eleitoral, pensando que eram “favas contadas”... enganou-se tão redondamente quanto o seu opositor, que apenas se candidatava para ser chefe da oposição, mas perante aquele desfecho imprevisível da vitória, viu-se enrascado sem sequer saber o que iria fazer pois nem programa tinha, uma vez que nem nas suas mais optimistas previsões pensava ganhar a Câmara...

E passámos a conhecer outro Rio para além do Douro, que começou logo por se atirar ao seu antecessor como se fosse oposição, esquecendo-se de ser presidente... perdendo mais tempo em verificar os erros e contas passadas, do que em propor qualquer coisa de novo para a cidade que o tinha eleito, salvo aquela excepcional medida de acabar com os “arrumadores” com altos índices de adesão como se pode facilmente constatar... para além, claro de ter que acabar as obras que tinha herdado.

Manteve-se, no entanto, a estratégia da entrega directa de projectos aos “consagrados”, evitando-se assim a chatice de concursos públicos, “que só complicam” e poderão até cair nas mãos de alguns “inexperientes” como foi o caso daquele famoso concurso em Matosinhos para a conversão do quarteirão da “Real Companhia Vinícola” em Centro de Ciências do Mar, em que o Narciso, teve que usar uns toques de magia para alterar o resultado, de forma que o “seu” arquitecto pudesse ganhar...

Sabendo-se que os “consagrados” de hoje, também começaram as suas carreiras como jovens inexperientes, ganhando Concursos Públicos que lhes deram visibilidade (Siza com 22 anos ganha Salão de Chã da Boa Nova; Souto Moura com 26 anos ganha Casa das Artes), pergunta-se como será daqui a uns anos quando estes se reformarem:

Será que vai ainda haver “consagrados”?

terça-feira, abril 25

liberdade


"Viémos com o peso do passado e da semente
esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente

Vivemos tantos anos a falar pela calada
só se pode querer tudo quando não se teve nada
só quer a vida cheia quem teve a vida parada
só quer a vida cheia quem teve a vida parada

Só há liberdade a sério quando houver
a paz,
o pão,
habitação,
saúde,
educação
só há liberdade a sério quando houver
liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir"

Sergio Godinho

costumes

é por isto que na rua, anda tudo com cara de pau:
"O comum mortal, funcionário por conta de outrem, com algumas ideias, e capacidade para as exprimir, raramente pode existir na blogosfera sem um nick. Eu não poderia fazê-lo sem correr sérios riscos relativamente à manutenção do meu emprego. Prevalece enorme hipocrisia social sobre o que é a decência, o respeito e a responsabilidade. Qualquer destas noções, no pensamento tradicional, exclui a sexualidade, a emotividade, o entusiasmo exaltado, a divergência, a diferença, o egotismo, determinada expressividade não padronizada, não formal, em, suma, a matéria da arte, que depois procuramos nos outros para nos sentirmos, por minutos, livres, verdadeiros; para reconhecermos quem somos, para perceber que existimos.Para sobreviver, temos precisado de nos robotizar em público. Podemos não o fazer, mas os custos serão elevados."
in http://omundoperfeito.blogspot.com/ posted by Isabela at Domingo, Abril 23, 2006
(desculpe Isabela, mas tinha que a citar...)

Imagem de "A Noite Saiu A Rua" filme de Abi Feijo (1987)

revolução

Foto do Centro de Documentação 25 de Abril

Naquele dia há 32 anos, perdemos o medo e sonhámos sem limites...
hoje, após tantas ilusões goradas,
comovem-nos ainda as imagens já longínquas daquela contagiante euforia que vivemos... poderíamos ter feito mais, é certo, mas apesar de tudo, ainda nos resta a liberdade de falar, de escrever e de recusar ser carne para canhão...

Viva o MFA, Viva a Revolução, Viva o 25 de Abril!...

Júlio Gonçalves (2000) - Associação 25 Abril

domingo, abril 23

E.L.A.

A Estação Litoral da Aguda é um bom exemplo de investimento público que vale a pena visitar.
http://www.fundacao-ela.pt/

Foi idealizada/concebida por mim com a parceria de Michael Weber, em 1990 (muito antes do Cavaco ter sonhado com a Expo). Aí seria instalado o 1º Aquário público em Portugal, desde o tempo do Aquário Vasco da Gama de Lisboa!... (e depois dizem que somos um país de marinheiros e pescadores)
Foi um longo processo de uma década por entre a inércia burocrática e a falência de empreiteiros.
Mas está aí, sólida e consequente com a sua ideia original: âncora na divulgação e educação ambiental da nossa orla costeira e baluarte na dignificação das artes das pescas.
E ainda conseguiu para a Praia da Aguda, um porto de abrigo que vinha sendo prometido pelos politicos aos pescadores, desde 1930....

primavera


Rio Caldo - Gerês - 13 de Abril

promiscuidade

A promiscuidade entre políticos e interesses privados, é tantas vezes demasiadamente despudorada... que o "povão" aqui à minha volta até já nem estranha, confundindo cada vez mais os "partidos" com "lobbies" e/ou agências de oportunidades de negócios e empregos para os seus sócios...

Lembram-se desse ex.-governante "que autorizou a participação de um accionista estrangeiro em duas empresas públicas", e que ficou administrador dessa empresa após sair do governo... e agora como Deputado, defenderá os interesses de quem?


Lembram-se daquele ex.-ministro da Agricultura que durante 10 anos, desde o bloco central foi "reinando e negociando" as cotas agrícolas com Bruxelas, e se tornou num dos "grandes" das celuloses, mais interessadas em pinheiros e eucaliptos do que na base nacional da nossa alimentação?

Lembram-se daquele ex.-ministro da defesa que cancelou o negócio dos helicópteros com os europeus para o dar de mão beijada aos seus "american friends", (com quem parece que fez boas amizades vindouras) esquecendo-se da solidariedade e cooperação europeia?

Lembram-se daquele Deputado que andava refugiado na Assembleia da Republica para não ir a julgamento por corrupção em Águeda?


E de outros mais nos poderemos lembrar...

Estes comportamentos escandalosos e abjectos, só servem para minar ainda mais a desconfiança e a falta de participação cívica e politica do "povão", que neste inicio século, vai vivendo do desenrascanço entretido e fascinado com o brilho das novas tecnologias que a Europa lhe facultou.... sem cidadania, nem solidariedade, numa competição desenfreada entre "xicos-espertos" e "que se salve-se quem puder".

A nós, "povão", nem sequer nos é facultado o direito de votar nos "nossos deputados"... pois apenas nos é permitido eleger quem os chefes do partido em Lisboa decidiram espalhar pelas listas dos distritos fictícios, chegando-se ao cúmulo de um Deputado eleito pelo círculo do Porto, ter declarado que "o Alentejo agora iria ter uma voz activa no parlamento", pois não é ele o presidente de um município alentejano!!!!!.......

mórbido

O Correio da Manhã anuncia:

"Nas bancas a partir de Domingo dia 19 de Fevereiro , por 5€ + Jornal

No Céu Há Uma Janelinha
(canções da Irmã Lúcia)

"Escute quem falou com com a Nossa Senhora, num inédito e exclusivo CD de áudio. O Carmelo de Fátima, num exclusivo com a Rádio Renascença e o Correio da Manhã, apresenta uma recolha de canções interpretadas pela Irmã Lúcia em 1980 e dá a conhecer um pouco da vida no Carmelo.
As receitas da venda deste CD revertem a favor das obras do Carmelo de S. José em Fátima"


com o acrescento da praxe:

"Edição limitada ao stock existente"

"Em boa verdade vos digo", se Ele descesse à terra de novo, lá teria que andar de novo à traulitada com os "fariseus do templo que profanam a casa do Pai"
São coisas que eu não consigo entender na "mentalidade portuguesa": se querem adorar a senhora, porquê expô-la ao ridiculo?
É exactamente o mesmo que fizeram com o Francisco Sá Carneiro - o homem morre num avião e vai de pôr o nome dele num Aeroporto!...

denuncia



todos os dias há mulheres a serem enganadas e escravizadas, para satisfazerem certos apetites exótico/erótico de alguns senhores do chamado mundo civilizado...

esperemos que esta campanha tenha algum sucesso

http://www.unodc.org/brazil/pt/campanhas_tsh.html

quinta-feira, abril 20

habitar

A clivagem entre o norte industrializado e o sul dependente e endividado, tem vindo a acentuar-se de forma alarmante.

Actualmente existem no planeta, cerca de 5 bilhões de habitantes a viver em condições de pobreza que vivem à margem dos planos sociais e dos benefícios da globalização financeira além de excluídos dos planos oficiais de desenvolvimento arquitectónico e urbanístico, e carenciados de infra-estruturas mínimas de abastecimento de água e saneamento.

Continuamos a assistir ao não cumprimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, nomeadamente no que diz respeito à habitação, referida no artigo 25 como um dos componentes fundamentais.

As carências nos países em vias de desenvolvimento, na actual conjuntura política e económica global são de tal ordem, que se torna impossível aos seus governos sustentar satisfatoriamente as necessidades das suas populações, o que tem provocado todo um fluxo de migrações em desespero de causa que em grande parte resultam apenas em mais marginalidade.

Apesar destes contornos difíceis, verifica-se que são os pobres e marginalizados os principais construtores de habitação própria no mundo, recorrendo a soluções simples e imaginativas com espontaneidade. Os parcos recursos de que dispõe, são aproveitados no seu máximo com grande sentido prático evidenciado na reutilização e reciclagem de excedentes, num sistema de auto-construção em que é fundamental a ajuda de familiares e amigos.