terça-feira, outubro 24

1969

Naqueles tempos da revolta estudantil coimbrã, em que os estudantes andavam de capas rotas, e abanavam o regime e a rigidez de costumes... eu fiquei devoto da Académica do capitão Mário Wilson, pulando com os golos do Artur Jorge e do Manel António, sob a batuta dos irmãos Campos e a robustez do Toni, enquanto o Dr. Maló ou o Brassard garantiam a inviolabilidade das redes, ajudados por uma guarda de honra onde se destacavam o loiro Artur Correia e os irmãos Alhinho, sob o comando do Rui Rodrigues, que um dia embevecido, tive a oportunidade de cumprimentar...
Depois, quase todos acabavam por ir parar ao Benfica... e eu não achava certo!... apesar da pena que sentia pelo coitado do Eusébio a arrastar-se em campo debatendo-se com lesões, (só o conseguiam parar à sarrafada...). Naquele tempo ainda não tinham inventado o cartão amarelo.... “o futebol era só para Homens!”... dizia-se.


















Nessa época, passava a semana toda com estes rapazes da foto, educados com disciplina monástica e católica... Assistindo às aulas, erectos na carteira de madeira de 2 lugares, ouvindo os professores em silêncio, tentávamos passar incólumes à régua do Pe. Carneiro da Matemática, à vara do Pe. Domingues de Francês, e aos perdigotos e bolinhas de cêra ou de ranho seco, do Fausto de Português...
Um dia conseguimos “gamar” a régua do Padre e dividimos em mais de 40 bocadinhos serrados na carpintaria, para que cada um guardasse um “recuerdo”.... foi um acontecimento!...
O resto do tempo, era passado nas salas de estudo, em carteiras tipo baú, em que o tampo era de abrir, e onde era crime guardar livros aos quadradinhos, nem do Fantasma, nem do Texas Jack, nem mesmo do Major Alvega, muito menos do Walt Disney, (que por serem em versão brasileira, nos levaria certamente a dar erros de ortografia...).
O silêncio era de velório, mas sem choro... O Prefeito, espécie de vigilante com poderes para castigar, omnipotente no seu estrado, rasteava todos os nossos movimentos e pestanejares: Levantava-se 1 dedo no ar para lhe pedir ajuda a resolver certos trabalhos, 2 dedos para abrir o tampo da carteira, e a mão aberta para ir à casa de banho (e só podia ir um de cada vez)....
O melhor era o recreio, tinha campos de futebol que apesar de pelados, tinham balizas, o que era um luxo para a época, e havia uns grandes alpendres, onde nos dias de chuva ou de muito calor se jogava ping-pong e/ou matrecos, alternando com umas caçadinhas e umas sessões de porrada, como seria de esperar no meio de tantos rapazes juntos...
Quatro décadas depois, descobrem-me neste mundo pequeno da internet, e convidam-me para um almoço... e eis-me de novo recordando esses tempos, em que tudo me parece a preto e branco, com infinitos degradés de cinzentos, não sei se porque havia muitos padres, ou se para condizer com os fatos austeros daquele senhor que estava prestes a cair da cadeira, ou simplesmente porque as fotografias e a TV também eram a preto e branco.....
A cor, essa só veio mais tarde quando comecei a conviver com as batas cor-de-rosa das minhas colegas, no 1º liceu misto da cidade, para onde fugi logo que pude....

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mas as Amizades ficaram.
julio silva

24/10/06 13:38  
Anonymous Anónimo said...

Boa! Só agora reaprei que está novamente no ar!
ahh saudade... só do que ainda não vivi
1 abraço
josé quintão

25/10/06 16:40  
Blogger MCP said...

Estás na foto? Com tanto penteado estilo orelhas de abano, nem pelo corte quinzenal eu te consigo descobrir...

25/10/06 18:50  
Anonymous Anónimo said...

será assim tão dificil descobrir-me no meio desta malta? na alturaa ainda usava "capachinho" e orelhas - sou o 52E....

26/10/06 13:25  
Blogger MCP said...

era a minha aposta...

29/10/06 15:09  

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